Destaque no maior prêmio da internet brasileira
A iniciativa Arte Fora do Museu (serviço de mapeamento de intervenções artísticas em espaços públicos) foi eleita a grande vencedora do concurso Web’s Got Talent, que premia os melhores projetos empreendedores digitais que utilizem padrões de web aberta, como software livre e licenças abertas. “Esperamos agora que o reconhecimento possa ajudar a trazer patrocínio para o projeto, já que até agora todo o investimento foi praticamente nosso”, diz Andre Deak, um dos criadores do Arte Fora do Museu em conjunto com Felipe Lavignatti.
Promovido pelo W3C, o concurso selecionou os melhores projetos brasileiros segundo os critérios de serviço prestado ao usuário, potencial de mercado e criatividade da interface. O concurso foi apresentado por Edney Souza, o Interney, empresário e professor especialista em tecnologias para Marketing Digital. Ao todo foram inscritos 51 projetos considerados inovadores. Os cinco projetos semifinalistas foram avaliados por jurados de peso do mercado digital e da web como Martha Gabriel, Amyris Fernandez, Bob Wollheim, Manoel Lemos, Ana Brambilla e Mauro Segura.
Reconhecimento
O Arte Fora do Museu desde 2011 faz um trabalho de valorização da arte em espaço público. No princípio era uma plataforma web que mapeava grafites, esculturas, murais e arquiteturas da cidade de São Paulo. Hoje, este sistema opera não só com as obras escolhidas por uma curadoria, como também com o colaborativo, onde qualquer pessoa pode inserir uma obra de arte em um mapa. A versão web é composta pelo site, por uma versão mobile e por um aplicativo iOS.
A iniciativa evoluiu para um projeto transmídia: além do website e do app IOS, o Arte Fora do Museu foi convidado pelo Google para fazer a curadoria do São Paulo Street Art, dentro do Google Art Project, e pelo Cultura Inglesa Festival, no segmento Cultura de Rua em cinco cidades, com workshops, exibições de filmes, exposições, palestras e residência artística com convidados internacionais.
O projeto foi convidado em 2012 para expor fotografias de arquiteturas na NONABIA (Bienal de Arquitetura), venceu um edital do Ministério da Cultura sobre Cartografias Colaborativas ainda em dezembro de 2012, foi apresentado no X Media Lab, na Suíça, em setembro de 2013 e contou ainda este ano com uma apresentação no TEDx Mauá.
Modelo de negócio aberto
O sistema de mapeamento Arte Fora do Museu é todo feito em software livre. Trata-se de um template de wordpress, batizado originalmente de Map Press, hoje Jeo, em constante evolução. Está disponível para ser baixado, e qualquer um pode instalar, de graça.
Também todo o conteúdo publicado no Arte Fora do Museu está em licenças abertas, como CC-Zero (domínio público). Significa que todas as fotografias (disponíveis no Flickr), vídeos, textos, e qualquer conteúdo podem ser utilizados livremente, desde que citada a fonte, inclusive para fins comerciais. Mas qual seria, então, o modelo de negócio por trás dessa iniciativa?
Existem algumas justificativas pela opção do modelo livre: primeiro, o entendimento de que todo conhecimento e toda a produção cultural deve ser livre e gratuita, acessível a todos. Isso fez com que muitas imagens do projeto fossem utilizadas em livros educativos, por exemplo. Mas mesmo sob o ponto de visto do mercado, há vantagens.
Esta atitude ajuda a melhorar a imagem de um eventual patrocinador, ligando seu nome a um produto com forte conteúdo artístico cultural, com aceitação e reconhecimento no mercado, disponível para todos, democrático, qualidades cada vez mais valorizadas não só nos meios digitais.
A livre distribuição do conteúdo faz com que o trabalho se torne mais conhecido. Apenas no primeiro ano do projeto, a marca Arte Fora do Museu teve um alcance de mais de 10 milhões de pessoas. Este alcance gera visibilidade, que gera mais reconhecimento e trabalho.
A partir do projeto Arte Fora do Museu, a equipe tem realizado diversos outros mapeamentos culturais, como: a exposição BHÁsia, em Belo Horizonte (2013); a curadoria para o Google Art Project; a curadoria para o Cultura Inglesa Festival; mapas de comunidades quilombolas no Brasil (www.ancestralidadeafricana.org.br); mapa da cultura de Fortaleza (www.mapeamentofortaleza.org.br); mapa do trabalho degradante em frigoríficos no Brasil (www.moendogente.org.br) – entre outros.
A iniciativa tem rendido reconhecimento, assim, em dois campos: na arte, em que instituições culturais podem se utilizar do know-how adquirido para contratar serviços variados; e na utilização e instalação de plataformas de mapeamento de produtos ou serviços mais variados, inclusive de políticas públicas e indicadores sociais.
Liberar o código faz também com que toda uma comunidade de desenvolvedores seja capaz de desenvolver e utilizar o sistema, permitindo que vários hubs de desenvolvimento possam surgir pelo país. “Não entendemos que sejam concorrentes, pelo contrário: são parceiros que poderemos contratar mais adiante, para desenvolver projetos locais, e que também poderão nos chamar para projetos, uma vez que somos os criadores da ferramenta e temos já alguma experiência com mapas digitais”, diz Felipe Lavignatti.